Estou em Bogotá, na Colômbia. E, até hoje de manhã poderia dizer que tudo corria muito bem e pacífico tal como no Brasil. Minha viagem foi motivada pelo trabalho e tendo o final de semana livre, resolvemos passear e conhecer os museus que, diga-se de passagem, são muito ricos culturalmente. Aliás, a Colômbia é um país que respira sua própria cultura que é feita de um povo apaixonado pela sua história, travada (ainda) por muitas lutas. Lutas por uma vida melhor, por condições melhores, lutam contra as guerrilhas, contra o tráfico e etc...
Nosso roteiro seriam os museus. Ontem fomos ao Museu Del Oro (lindo e perfeito) e pra ele vou (ainda) dedicar um artigo neste blog, mas o que vou relatar hoje é algo histórico e para mim uma grande experiência pessoal. Vi com meus próprios olhos o quanto este povo ainda luta por condições mínimas de uma vida melhor.
Caminhando ao Museu Botero, não sabíamos que encontraríamos uma manifestação pelo dia do trabalho (hoje, 1º de Maio) e com isso todas as vias do centro histórico de Bogotá estavam interditadas. Pegamos a concentração da manifestação, vimos desde crianças à velhos em um ato pacífico, dada a parada, resolvemos continuar nosso percurso até o museu, ainda caminharíamos umas 8 quadras.
Encontramos muitos policiais, equipe tática, anti-bombas, carros especiais (iguais aos caveirões do Brasil) e mais uns mil policias anti-choque. Até então não entendia o porquê de tantos policiais para umas poucas mil pessoas, mas dali há 5 minutos entenderia o porquê.
Paramos na cafeteria Juan Valdez (uma muito famosa por aqui) enquanto tomo meu café escuto não muito longe quatro explosões seguidas, um barulho muito atípico pra mim, e, logo em seguida muitas pessoas correndo.
O que acontecia? Alguns estudantes, manifestantes, jogaram sacos de tinta nos policiais e em repressão eles lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dali em diante a grande fúria despertada entre os manifestantes, que respondiam com pedras e, ao passar dos minutos responderam com bombas (não de gás), granadas mesmo. A repressão continuou com mais gás numa tentativa de dispersar os manifestantes, uma das bombas explodiu perto de nós. Primeiro pensei que era bem mais longe, mas logo em seguida me veio aquele odor forte de amônia, meus olhos pegavam fogo e meus pulmões queriam explodir, não conseguia respirar. Com ajuda do meu marido, consegui sair do local e corremos no sentido contrário da manifestação, mas o cenário não era muito diferente.
Na minha opinião, o que vi hoje, foi um povo indo às ruas exigir do seu governo salários melhores, condição de vida melhor e isso me deu certo orgulho e me lembrou das "diretas já", dos caras pintadas. Hoje, o Brasil ainda tem muito a crescer e mudar, mas em relação ao nosso passado (travado por muitas lutas, também), estamos muito melhor.
Certamente, essa será uma história que contarei para meus filhos e netos.
Mais abaixo, as fotos dos confrontos e de um casal de manifestante que ficaram nu e tomaram banho de sangue em protesto contra os desaparecidos, presos e mortos políticos.
|
Concentração da manifestação |
|
Muro do Banco Popular da Colômbia, pichado por um manifestante |
|
Bloco de manifestantes |
|
Polícia - Concentração em frente a catedral, na Praça Simón Bolívar |
|
Concentração da Manifestação em frente ao palácio do governo |
|
Logo atrás, bomba de gás e manifestantes correndo |
|
Bloco de manifestações - "El pueblo unido jamás será vencido" |
|
Choque entre polícia e manifestantes |
|
Tanto manifestantes quanto polícia - Troca de bombas |
|
Casal nu e banhados com sangue (de verdade) em prol das vítimas políticas. |